Foto https://kotter.com.br/loja/literatura/cosmogonias/
Otto Leopoldo Winck nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1967, viveu uma temporada em Porto Alegre (RS) e, desde 1982, está radicado em Curitiba (PR). Em 2006, foi vencedor do prêmio da Academia de Letras da Bahia, com o romance Jaboc, publicado em 2007 pela Garamond. Em 2012, conquistou o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura, na categoria poesia, e, em 2017, lançou o ensaio Minha pátria é minha língua: identidade e sistema literário na Galiza, resultado de sua pesquisa de doutorado. Os poemas que o Cândido publica nesta edição fazem parte do livro Cosmogonias, a ser lançado este ano pela Kotter Editorial.
 |
POESIA SEMPRE. Árabe Contemporânea. Número 24. Ano 13. Editor Marco Lucchesi. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2006. 201 p. No. 10 368
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda
Último soneto
Não quero o encanto do canto que encanta,
não mais a melodia do acalanto,
nem mais os sortilégios do quebranto,
no engano de quem canta o mal espanta.
Eu quero o desencanto do anticanto,
o gemido de quem já não mais canta,
o pão embolorado como janta
e a dor inútil de um inútil pranto.
Silêncio: eis que chega a noite escura.
Não há mais poesia na cidade.
O poeta recolhe-se ao seu gueto,
sua torre de alfarrábios, sua clausura,
e silenciosamente, sem piedade,
elabora seu último soneto.
Soneto da humana busca
Se for possível aperfeiçoar,
como que de carvões em diamantes,
a insana e insone sanha dos amantes
e a concha que guardou o som do mar,
se é possível também desacerbar
a célere passagem dos instantes
e tornar o depois de novo em antes,
será então possível reencontrar
o que na selva escura foi perdido
e na noite ancestral alienado,
retando apenas sombras e saudade:
o teu e o meu original sentido,
a humana busca de um inominado
— talvez nada, talvez felicidade...
Desacorde
Acordo em total desacordo
comigo, de acordo
com o ricto sutil no espelho
e o desacorde dos dias.
Bom dia — saúdo o vizinho,
sabendo que o dia é avaro
e o bem é restrito.
Na valise que arrasto nas ruas
há um deságio de sonhos
e esperanças vencidas.
Acordo com total desacordo
com todos. — Bom dia responde
o imbecil do vizinho.
*
VEJA e LEIA outros poetas do RIO DE JANEIRO em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_de_janeiro/rio_de_janeiro.html
Página publicada em abril de 2025.
|